EDUCAÇÃO
É mais do que música: é a transformação na vida de Eduardo Reis
Aulas de violino em oficinas de prevenção à violência refletem em mudanças significativas na trajetória de jovens como o morador do Kephas
Talvez o seu João, morador da comunidade do Kephas, no bairro São José, apaixonado pela música e por seu trompete, não tivesse ideia do que o futuro reservaria para o seu filho do meio, Eduardo Reis, quando a vida dele estivesse sendo pontuada por sonhos e já por algumas realizações importantes. Hoje, aos 20 anos, Edu é motivo de orgulho para o pai, ao ter feito do violino um instrumento que daria um novo ritmo e um rumo diferente à vida dele e de outros jovens que já têm a música como realidade no seu cotidiano.
Eduardo é um dos 42 alunos das Oficinas de Música, oferecidas pela Prefeitura de Novo Hamburgo e ministradas por profissionais da Universidade Feevale. A iniciativa, desde o ano passado, vem aproximando jovens de propostas que ampliam o leque profissional e pessoal, oportunizando mudanças na trajetória de vida de uma comunidade que, até então, não tinha alternativas para essa transformação. Sua dedicação ao aprendizado do violino e respeito pelo projeto levaram Eduardo a integrar a Orquestra da Universidade Feevale, sendo um dos destaques do grupo.
O jovem, que tem se dedicado também ao curso de Design de Interiores e atua no setor de marcenaria, conheceu a oficina por meio de um amigo. Quando soube que era para aprender a tocar violino, Eduardo pensou na dificuldade que teria ao tentar se adaptar a um instrumento clássico e tão distante da sua realidade. Mas, o que era para ser um obstáculo, se transformou em um grande estímulo, e o desafio o impulsionou. “Por ser difícil, quis encarar. Foi uma das melhores coisas que fiz na vida.”
Liberdade e criatividade
Por trabalhar de forma autônoma, Eduardo pode frequentar as aulas de violino com liberdade e comemora o fato de ajudar colegas ao contribuir com seu conhecimento. Quando viu a dificuldade de um colega que toca contrabaixo em transportar o instrumento tão grande, desenvolveu uma espécie de suporte com rodinhas que permitem se locomover com segurança. “Isso aqui não é só música, a gente cria laços como uma família, nos preocupamos uns com os outros e aprendemos juntos”, comenta o violinista marceneiro.
E os reflexos da oficina, para ele, vão muito além das paredes do prédio do Centro de Referência em Assistência Social (Creas) Kephas, onde o projeto é realizado. “Depois que as oficinas começaram, todos aqui passaram a sentir-se acolhidos, não somente os alunos, mas as famílias, os vizinhos, por que eles são vistos, valorizados. Coisas boas estão acontecendo perto deles e isso é reconhecido”, comenta o aluno. E é o que confirma o coordenador técnico do Esporte, Lazer e Cultura do PDMI, Rafael Borges. “Ele comprou seu próprio violino, o que demonstra um grande interesse e responsabilidade, porque ninguém faria um investimento desse porte, com sacrifício, se não quisesse dar continuidade ao processo”.
O coordenador parece estar certo. Quando pensa no futuro, Eduardo não imagina sua vida sem a música e, mais do que isso: quer ser professor e dar sequência ao seu preparo chegando à Licenciatura. “Se eu pudesse, todos os meus amigos e pessoas que eu amo estariam aqui aprendendo e conhecendo tudo o que eu vejo. Ensinar música vai ser uma forma de realizar este sonho”, se emociona o jovem, com brilho no olhar.
A oficina de música é uma das que fazem parte do Componente Prevenção à Violência do Programa de Desenvolvimento Municipal Integrado (PDMI), com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).