Connect with us

CAMPO BOM

Everton Gaide – Craques no campo, referências fora dele

Em mês de muito futebol de alto nível ao redor do mundo, destacando a Copa América nos Estados Unidos e a Eurocopa que acontece na Alemanha. Mas minha crônica não é para falar sobre o futebol dentro das quatro linhas e sim para refletir sobre o papel do futebol na sociedade e o poder de influência que os jogadores têm em um país apaixonado pelo futebol como é o Brasil.  Outro país apaixonado por futebol, bicampeão do mundo, sendo uma das vitórias em cima do próprio Brasil. Estou falando da França, que caiu na semifinal da Eurocopa perdendo para a Espanha. Porém repito, meu texto não é sobre futebol, é sobre a capacidade de se reconhecer e entender da própria história. Digo isso porque ao mesmo tempo que a seleção francesa jogava a Eurocopa aconteciam eleições na França, em que uma ideologia abertamente fascista, em crescente no mundo, ganhava força com um discurso contra os franceses não brancos. Nesse contexto, diversos jogadores franceses de destaque mundial clamavam para que os cidadãos franceses votassem contra esse partido de extrema direita que entre outras coisas, prometia “Dar um futuro às crianças francesas brancas”. Algo repugnante e uma postura que deveria ser desprezada por qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta. Diante da ameaça à pluralidade, craques como Mbappé, maior referência técnica e rara capacidade de se conectar muito bem com uma juventude francesa, se posicionou contra tal ameaça. A coragem desses jogadores faz lembrar os visionários da revolução francesa, que viam um mundo muito mais plural e diverso que uma elite fascista da época e a atual, que se tornou poderosa herdando a riqueza da exploração de suas colônias ao redor do mundo, principalmente nos países africanos.

O posicionamento dos jogadores franceses, filhos e netos de imigrantes de várias partes do mundo, fala muito sobre consciência social e racial, mas acima de tudo, um senso apurado de coletividade. Esses jogadores, obviamente são milionários e independente da ideologia política que ganhasse a eleição na França, não seriam afetados, afinal dinheiro compra tudo em qualquer lugar do mundo. Mesmo assim não se calaram, respeitaram suas histórias, dos seus ancestrais e principalmente das populações mais vulneráveis que certamente seriam muito violentadas por uma política fascista. A atitude dos jogadores franceses transcende os seus papéis de craques dentro de campo para os tornarem referências fora dele.  Infelizmente, os jogadores brasileiros não possuem essa mesma inteligência social e muito menos coragem para se posicionar em defesa dos seus iguais e da história do seu país. Nossos jogadores são medíocres dentro de campo e pior ainda fora dele.

Jornal Toda Hora © 2023 - Todos direitos reservados