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Everton Gaide – O caminho possível é a coletividade

Há três semanas, logo no início da catástrofe, quando muitas pessoas ainda estavam ilhadas e sendo conduzidas para abrigos eu falei que as ações dos voluntários eram lindas e muito importantes. Não mudo de ideia, os voluntários ajudaram milhares de pessoas e ainda continuam ajudando, mas infelizmente, como seres humanos que são, estão cansados. Alguns adoeceram física e emocionalmente. Não é fácil ver tanta perda e sofrimento e passar ileso. Não é simples seguir doando produtos de limpeza, alimentos e dinheiro por muito tempo.

Os recursos acabam, a energia acaba, a adrenalina é limitada e atualmente já é comum ver entidades solicitando por mais voluntários. Que precisam de mais pessoas para ajudarem em diversas ações. É comum ver que as cestas básicas estão acabando etc. É claro que na maioria dos lugares a água já baixou e as pessoas estão voltando para suas casas para limpar o que sobrou e tentar recomeçar. É claro que tudo mudou, o cenário é de destruição, mas a esperança de retomar a vida próxima da normalidade é o desejo de todos. Dos mais aos menos afetados. É claro que nem todos que leem essa crônica irão entender o sentimento que estou tentando colocar aqui pois não viveram ou não tiveram contato com pessoas que passaram por isso, ou ainda, não se importam e seguem suas vidas e está tudo bem.

Porém, as pessoas que se importam, que entendem que o sofrimento do outro é algo que deve ser levado em consideração e que ajudaram simplesmente pelo desejo de ajudar e não para “caçar likes ou votos logo ali em outubro”, esses sim entenderam o real senso de humanidade, de coletividade e caridade.

Para finalizar, compartilho que ouço muito uma expressão das pessoas que foram atingidas quando conversam comigo, a frase é: – “A noite que nunca tem fim” se referindo a noite em que os diques romperam ou foram transbordados inundando milhares de lares rapidamente. Vejo muito isso, a noite nunca acaba, pois as consequências dela nunca se apagarão. O desafio será lidar da melhor forma possível com a nova realidade que se apresenta e que nunca mais será como antes. Que possamos nos apoiar uns nos outros, que sigamos ajudando uns aos outros de forma constante para que logo ali, a nova realidade seja menos dolorida. O caminho para que aquela noite fique cada dia mais distante é a cobrança de ações efetivas de infraestrutura dos poderes públicos municipal, estadual e federal, além da manutenção e ampliação do senso de coletividade, sem esse senso, teremos alguns casos resolvidos e muitos abandonados no trajeto.

 

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