NOVO HAMBURGO

Presidente de sindicato defende melhorias para a classe médica e critica abordagem de vereador em fiscalização nas UPAs

Em janeiro, o vereador Joelson de Araújo (Republicanos) publicou em suas redes sociais dois vídeos gravados dentro das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) Canudos e Centro. Neles, o parlamentar alega ter encontrado médicos dormindo enquanto pacientes aguardavam por atendimento. Nesta segunda-feira (10/02), o presidente do Sindicato dos Médicos do Vale do Sinos (SindMed), Kleber Fisch, subiu à tribuna da Câmara para condenar a atitude do republicano. Em sua manifestação, o cirurgião plástico reconheceu os desafios da saúde pública, apresentou os principais problemas enfrentados pela categoria para o melhor exercício da profissão e indicou o que considera formas mais adequadas de fiscalização.

Convidado à sessão a pedido do vereador Cristiano Coller, Fisch classificou o ato de Joelson como “midiático” e apontou “total desconhecimento” de fundamentos técnicos da área. “A parte de atendimento e de repouso é privada. Isso está na lei. Ninguém pode entrar ali, muito menos filmando. Toda essa situação expôs os funcionários a uma situação muito constrangedora. Qualquer fiscalização deve ser previamente agendada com a Secretaria de Saúde e com a chefia das UPAs. Devem ser listadas as intenções e os pontos a serem verificados. No caso de averiguação das condições de trabalho médico, também deve ser solicitado o acompanhamento do sindicato ou do Cremers (Conselho Regional de Medicina)”, argumentou.

“Além do espetáculo de mau gosto, isso não adicionou nenhum resultado positivo. Não é esse tipo de auxílio que necessitamos para a melhoria do serviço médico”, prosseguiu o convidado, que anunciou o protocolo de denúncia na Câmara por suposta quebra de decoro parlamentar. “Também estamos tomando todas as medidas judiciais necessárias, que serão resolvidas em outras esferas”, acrescentou Fisch.

Joelson negou ter invadido espaços privativos. “Andei somente no corredor e bati à porta com educação, até a doutora abri-la”, pontuou o vereador, eleito presidente da Comissão de Saúde da Câmara para o ano de 2025. Juliano Souto (PL) parabenizou o colega pelo trabalho de fiscalização. “O senhor foi além do engajamento. Conseguiu suscitar um debate de extrema importância para o nosso município”, frisou. O presidente Cristiano Coller também saiu em defesa de seu segundo-secretário. “Se Joelson não fizesse esse papel, quem faria? Um dos deveres do vereador é justamente esse: fiscalizar. Então quem fiscalizaria os médicos? Vocês não estão fiscalizando vocês mesmos. Às vezes há muito corporativismo”, criticou.

Fisch explicou que cada unidade conta com um chefe de serviço, cargo normalmente ocupado por enfermeiros. “É essa a pessoa encarregada de fiscalizar se o médico está trabalhando. Se ela entender que existe um problema muito sério, faz-se a denúncia ao Cremers”, expôs. Em resposta à vereadora Daia Hanich (MDB), o presidente do SindMed comentou ainda que os médicos têm direito a duas horas de intervalo dentro de um plantão de 12 horas. “Mas, durante o dia, essas duas horas nunca são cumpridas, porque não dá para parar”, lamentou.

Condições de trabalho e restrições de exames

Logo no início de seu pronunciamento, Kleber Fisch comentou que já planejava anteriormente uma visita à Câmara. Segundo ele, o sindicato está levantando uma série de problemas que atrapalham a atuação dos profissionais da medicina dentro das unidades de saúde da cidade. A ideia é levar esse diagnóstico ao Executivo para subsidiar melhorias não apenas nas condições de trabalho, mas no atendimento aos hamburguenses. “Não somos inimigos da população. Queremos colocar o sindicato junto à Câmara para buscarmos soluções. A saúde tem que melhorar, e melhorar muito. Em termos de equipamento médico, estamos muito longe do ideal”, salientou.

Entre os apontamentos preliminares, citou a falta de recursos, a restrição no número de exames que podem ser solicitados e a ausência de assistentes sociais nas UPAs, profissionais que facilitem a comunicação com os pacientes e expliquem os melhores encaminhamentos para cada caso. Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Professora Luciana Martins (PT) questionou se o sindicato já formalizou alguma denúncia a respeito dessas situações. “Esse relatório está sendo feito, para tentarmos implementar melhorias até maio. Faremos essa avaliação técnica e passaremos para vocês. Se a Prefeitura conseguir mudar, melhorará muito o atendimento no município”, antecipou.

Eliton Ávila (Podemos) revelou ouvir da população a ânsia por um atendimento mais humanizado e sugeriu que, em equipes com apenas três médicos plantonistas, não se permita sobreposição de intervalos, a fim de não desfalcar o atendimento. Deza Guerreiro (PP) indagou a respeito dos critérios de classificação de urgência e emergência. Já seu colega de partido Giovani Caju resgatou sugestão do próprio sindicato e propôs a realização de mutirões de cirurgias eletivas.

Por fim, Enio Brizola (PT) perguntou qual seria o número ideal de médicos simultâneos em cada uma das UPAs. Fisch disse ainda não ter uma resposta concreta, mas adiantou que o dado fará parte do relatório elaborado pelo sindicato.

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